Nada muda nessa empresa!
Já ouviram muito essa frase? Alguns ambientes de trabalho são realmente difíceis, repletos de conflitos, jogos de poder, dominados por apadrinhamentos ou sem atenção ao bem-estar social. Mas o fato é que algumas empresas vivem colhendo os frutos da sua incapacidade de mudar.
Já tive muitos chefes excêntricos na minha carreira e até me pergunto se não somos todos umas “figuras” quando ocupamos uma caixinha no organograma. Tive chefes certinhos demais, outros desligados demais, alguns muito bons e outros bem caricatos. Mas tive um que costumava repetir uma frase que jamais vou esquecer: “Tem 20 anos que venho falando a mesma coisa e nada muda nessa empresa”. Andei pensando e comparando empresas, modos de estruturação, de reconhecimento dos colaboradores e resolvi analisar o porquê desta frase.
Para começar, precisamos voltar aos primórdios da sociedade. Na Grécia antiga, utilizava-se o termo Polis (Cidade-Estado), que eram cidades independentes e auto-suficientes, cada uma com suas regras políticas, econômicas e sociais. As principais formas de governos eram: “Democracia”, como a Politeia, em que assembleias do povo tomavam as decisões; Aristocracia, como Esparta, em que os “notáveis” da sociedade – grandes latifundiários – tomavam as decisões; Autocracia, em que um governante tomava para si todos os poderes.
Ora, as empresas são similares as Polis, um micro-universo político-social que tem sua forma de governo definida por um complexo jogo de interesses que permanece em constante mudança.
Algumas empresas trabalham de forma Meritocrática, onde o poder vem através dos méritos: faça o que tem que ser feito para obter o reconhecimento. Costumam ser empresas com metas e regras claras, com visão estabelecida em longo prazo e decisões estratéticas. Os colaboradores sabem o que devem fazer diariamente, como fazer e como proceder se houver problemas. Se é uma fábrica de cadeiras, faça cadeiras; se é uma lanchonete do McDonalds, sirva com presteza e rapidez; Se é uma loja de qualquer tipo, venda muito e fidelize clientes.
Estas empresas costumam ser agradáveis de trabalhar e idealmente falando, todos têm chances de alcançar o topo. Isto gera um ciclo virtuoso de trabalho, de agregação de valor aos serviços e produtos, de melhoria contínua e reconhecimento aos colaboradores mais alinhados à missão da empresa.
Em contrapartida, existem empresas que adotam a forma Autocrática, onde o poder está na mão de uma pessoa apenas, que toma todas as decisões conforme critérios subjetivos. As regras dependem de uma avaliação contextual e as metas podem mudar constantemente. Isto não acontece por acaso, há ambientes empresariais relacionados à política ou dependentes de poucos clientes, em que o gestor realmente precisa centralizar as decisões para evitar problemas e defender os interesses de seus clientes, dos quais depende para sobreviver.
A visão de longo prazo e as decisões estratégicas podem ser suplantadas por necessidades imediatas do cliente, que causam a repriorização constante de atividades e isso gera dificuldades para a organização da empresa. Como o ambiente político está em constante mudança, tem-se a impressão que os projetos apresentados dependem do humor do gestor e que os esforços não são reconhecidos, pois não há metas claras, é como dizem: “manda quem pode e obedece quem tem juízo”.
Como consequência, os colaboradores acabam desacreditando no mérito por resultados. Os colaboradores procuram entender o modo de pensar do grupo dominante e passam a atendê-lo sem questionamentos, fazem as coisas para “inglês ver” e procuram permanecer longe do foco de atenção. A criatividade e a iniciativa são podadas pelo tempo. Abre-se espaço para aproveitadores, que se aproximam do gestor com bajulações e obtêm priorização de seus interesses, mesmo que não sejam alinhados ao negócio da empresa. Por trás das cortinas usam-se frases como a do meu caricato amigo: “Nada muda nessa empresa!”.
A sociedade é um organismo vivo e interdependente, que se organiza de determinada forma sempre por necessidade. Todo processo de mudança organizacional tem somente dois caminhos: O patrocínio do gestor maior – seja autocrata ou meritocrata – ou a união da classe subalterna, o que é muitíssimo custoso para todos. Como estamos numa curva ascendente de crescimento econômico no Brasil, aconselho que, se você está numa empresa que não condiz com seus princípios e você não suporta conviver com isso, simplesmente mude-se, certamente é melhor que passar 20 anos dizendo a mesma coisa.
Eli Rodrigues
Muito bom o ponto de vista e infelizmente, muitas vezes verdadeiro. You got it!