Pessoas com deficiência no ambiente corporativo

Pessoas com deficiência no ambiente corporativo

“Os deficientes precisam se valorizar mais, lutar mais e acreditar em si mesmos” (André Herculano)

Embora ainda não sejam muitas, as pessoas com deficiência estão com muita vontade de crescer profissionalmente e atuar de igual para igual com qualquer profissional.Esse é o caso do André Herculano dos Santos, um paulista de Santa Bárbara d’Oeste, com 33 anos de idade, graduado em Pedagogia e Computação, professor, analista de sistemas e deficiente visual.

O André trabalhou comigo em alguns projetos de software no Venturus Centro de Inovação Tecnológica em Campinas-SP. André é uma personalidade, talvez por ser educador, tem o ímpeto de ajudar e incentivar outras pessoas e acaba inspirando a todos.

Fiz uma entrevista com o André para tentar entender como tratar adequadamente as pessoas com deficiência no ambiente corporativo, quais as perspectivas no mercado de trabalho e que recomendações ele teria para os líderes de um modo geral, segue a transcrição.

Eli: Olá André, como está e o que tem feito?

André: Tudo bem Eli, estou trabalhando como analista de sistemas para mainframe na Telefônica em São Paulo.

Eli: Você está morando em São Paulo?

 André: Não, vou e volto toda semana de ônibus. Moro em uma república em Sampa e tenho minha casa em Santa Bárbara.

Eli: Primeiro de tudo, como devemos chamar as pessoas com deficiência?

André: O termo “portador de necessidades especiais” está em desuso, “portador de deficiência”, embora esteja presente em algumas leis, nào faz sentido algum. Se você pesquisar no dicionário, verá que quem porta alguma coisa, pode deixar de portar no momento que desejar, esse não é o caso da pessoa com deficiência. O termo correto é “pessoa com deficiência”,

Eli: Como o mercado está aceitando pessoas com deficiência atualmente?

André: O deficiente ainda não está conseguindo mostrar o tanto que deveria, os poucos que conseguem se sobressair esbarram num gargalo ou outro. Falta informação, conhecimento e vontade.

Os recrutadores de RH também precisam deixar de lado o preconceito e olhar o deficiente não a partir de quem enxerga, de quem tem mãos ou anda, mas de quem pode executar funções com algumas limitações. Já aconteceu de um recrutador dizer que um deficiente visual não tinha perfil pra digitar, já que não enxergava.

Eli: Afinal, que tratamento se deve dar a pessoas com deficiência?

André: Tratar com a maior naturalidade possível, sem medo de se aproximar, sem medo de falar bobagem e sem medo de oferecer ajuda. Lembrando que a pessoa pode ou não aceitar ajuda, isso parece que causa um constrangimento para quem ofereceu e a pessoa pára de oferecer.

As pessoas já estão se adequando, existe um receio no começo, mas acabam se esquecendo da deficiência e o convivio se torna normal.

 Eli: Quais são os principais pontos em relação a acessibilidade?

André: Barreiras arquitetônicas em especial impedem a locomoção de quem usa cadeira de rodas (cadeirantes). A deficiência visual, por mais que pareça o contrário, é a que menos precisa de adaptações: não precisa de rampa, banheiro especial, nem mudar o mobiliário para recebê-lo. Em geral precisa somente de orientações das primeiras vezes que vai ao local e um software de leitura para usar no computador.

O tema acessibilidade está crescendo a passos curtos no Brasil, falta muito pra chegar ao mínimo aceitável. Seja por força de lei ou bom senso, alguns órgãos públicos estão se adaptando, mas nem próprio governo, que é incentivador, tem o website preparado para receber todos os  tipos de deficiência, os prédios públicos também têm sérias limitações.

Eli: Como foi sua atuação no desenvolvimento de projetos e que recomendações tem a dar aos gerentes de pessoas/projetos?

André: Gosto de trabalhar com “inicio , meio e fim”, com meta e objetivo. É importante, atrai bastante saber onde vai chegar. Tive experiências na área de educação como líder, nesta área tive muitas oportunidades.

No entanto, no campo da tecnologia as lideranças sempre me deixaram com tarefas secundárias, nunca delegaram grandes responsabilidades porque acreditavam que eu não daria conta. Faltou um pouco de desafio como era para todo mundo. Percebi certa falta de confiança, de credibilidade.

Muitas empresas trabalham à “toque de caixa”, isso não é de fato um planejamento. Começam a desenvolver (os sistemas) para depois planejar o que vai ser feito. Nesse sentido a gente acaba sendo prejudicado, porque não dá tempo de estudar que ferramentas precisam de adaptação antes de entrar na equipe “jogando”.

Eli: Que mensagem gostaria de deixar para outros deficientes que estejam tentando ingressar no mercado de trabalho?

André: Minha esposa trabalha na Casa do Trabalhador em Santa Bárbara D’Oeste, onde existe um trabalho de direcionamento das pessoas com deficiência ao trabalho. Até o momento os resultados são bem incipientes, com pouca adesão.

Minha mensagem final é que: Os deficientes precisam se valorizar mais, lutar mais e acreditar em si mesmos.


Contatos do André
Blog: poetasantos.wordpress.com. E-mail: poetasantos@yahoo.com.br

 

Eli Rodrigues

Publicado por: Eli Rodrigues