Porque devemos entrevistar a empresa antes de aceitar uma posição de Gerente de Projetos

Porque devemos entrevistar a empresa antes de aceitar uma posição de Gerente de Projetos

O mundo das entrevistas

Toda entrevista de emprego tem o mesmo objetivo: Descobrir se o candidato está qualificado para assumir uma função na empresa. Para isso, o entrevistador pergunta sobre experiências, conhecimentos e como reagimos a determinadas situações. Alguns entrevistadores, mais focados no comportamento, nos fazem perguntas esquisitas como: Quais são suas qualidades e defeitos? Conte uma situação difícil que passou com sua equipe de trabalho? Por que saiu do último emprego?

Há também uma parte da entrevista que se dedica a assuntos mais práticos como disponibilidade para viagens, horário de trabalho, salário e expectativas quanto à empresa. Ao final, é senso comum, os entrevistadores nos questionarem se temos alguma pergunta e é sobre este momento que quero dissertar hoje.

Acontece que, muitas vezes, as empresas buscam contratar um “super-homem” para resolver seus problemas. Será que a empresa é uma Metrópolis ou está mais para Kripton? Pois até mesmo o Super-homem tem seus pontos fracos. Há empresas que esquecem de fazer sua parte para ter projetos bem sucedidos e simplesmente esperam que um profissional, sem apoio na cultura da empresa, consiga realizá-los. Ora, uma andorinha só não faz verão, sem o devido apoio é impossível alcançar o sucesso.

Entrevistando a empresa

Como todo Gerente de Projetos sabe, realizar um projeto é algo extremamente arriscado, pois mexe com o status quo para criar algo novo. Se até Steve Jobs, sendo sócio majoritário da Apple, sofreu represálias ao impor um certo ritmo de trabalho, que dirá um simples GP como você e eu.

Ainda que a empresa seja “projetizada”, há fatores culturais que nos dificultam a vida. Por exemplo, se a equipe não estiver qualificada, se o contrato tiver sido mal delineado, se o poder de decisão for disperso, se não houver autonomia para o GP etc. Essas e outras (infinitas) situações dificultam grandemente a execução de um projeto.

Ao longo dos últimos 10 anos, prestei serviços em inúmeras empresas e isso me permitiu adquirir uma visão pragmática em relação a Cultura Organizacional. Há empresas que simplesmente não terão sucesso, porque possuem problemas estruturais, de fluxo de poder ou porque não há integração de metas e regras.

Por isso, minha recomendação é que, antes de aceitar um emprego, você entreviste a empresa. Você pode me argumentar que está sem emprego, que tem filhos para criar, que o mercado está difícil ou qualquer outro discurso de autopiedade, mas a grande verdade é que se você não analisar a empresa, poderá passar meses infeliz e, inevitavelmente, fracassar em seus projetos.

Para diagnosticar rapidamente uma empresa, recomendo 4 focos principais: Poder, Cultura, Estrutura e Objetivos.

No tema Poder, procure saber sobre o modelo de governo da empresa, é meritocrático, autocrático ou simplesmente burocrático? Saiba também sobre seu gestor, qual seu estilo de liderança? É autoritário, democrático ou liberal? Como reage aos problemas do dia-a-dia? Que tipo de suporte dá aos projetos? Como lida com projetos em crise? Busque essas informações entre funcionários e não diretamente do gestor, afinal, ele também é humano e apresentará uma versão idealizada de si mesmo.

Em seguida, no tema Cultura, procure saber se o ambiente é colaborativo ou competitivo, conservador ou inovador. Busque saber se a empresa tem foco em objetivos ou em processos. Descubra quem são as “estrelas” da empresa e que características são apreciadas nessas pessoas. Se não souberem responder, não há cultura definida e poucas coisas são tão perigosas quanto isso.

No tema Estrutura, verifique se a empresa é funcional, matricial ou projetizada. Se for funcional, como estudioso do PMBOK, você já sabe que apenas o gerente funcional tem poder de decisão e isso fará de você um expedidor, uma das posições mais operacionais para um Gp. Se a empresa for matricial, busque saber que autonomia terá sobre os recursos (matricial fraca ou forte) e como funcionam as “escaladas”, isso o apoio e a objetividade da empresa aos projetos. Se, por fim, a empresa tiver uma estrutura projetizada, pergunte sobre recursos, contratos e fluxo financeiro, afinal, a responsabilidade sobre os resultados será exclusivamente sua.

Ao final, avaliando a empresa como um sistema, busque saber sobre seus Objetivos. A empresa possui metas, responsabilidades e regras claramente definidas? Qual o papel do GP na organização? Como são alocados os recursos nos projetos? Como funciona o processo de planejamento? Como é feito o acompanhamento de projetos pela alta direção? E, principalmente, como funciona o handover de um projeto para a operação/manutenção, isso lhe evitará dezenas de problemas com “projetos ressurretos”.

Tomando a decisão

Observe também se a empresa realmente encaixa no seu estilo de gestão. Não adianta ser ágil numa empresa lenta, nem um profissional by the book numa empresa que não segue regras. Se isso acontecer, você irá se cansar, errar, sofrer pressão dos colegas e por fim, desistirá do trabalho.

Com isso, fica bem claro que você precisa se conhecer. Deve saber em que tipo de ambiente se enquadra melhor, que modelos de poder prefere exercer e o quanto está disposto a se adaptar a nova cultura, é isso que faz a diferença na seleção de uma empresa. Se nada der certo, não se aflija, basta continuar procurando!

Por isso sempre digo que um Gp consciente de sua profissão sempre tem 3 coisas: Uma boa rede de contatos, currículo sempre atualizado e dinheiro no banco. Só assim nos reservamos o dierito de escolher nossos trabalhos.

O bom Gp é responsável pelos resultados de seus projetos, por isso é tão importante avaliar se a empresa e seu ecossistema são realmente capazes de desempenhar seus papéis no palco. Projetos fracassam por muitos motivos, é o que trato no livro “Os 21 erros clássicos da Gestão de Projetos”, em fase de lançamento pela editora Brasport. Mas, se serve como consolo, os erros sempre se repetem em todas as empresas do planeta, cabe a você decidir com quais deles deseja conviver. Escolha um bom time e sucesso!

Espero ter ajudado!

Eli Rodrigues

Publicado por: Eli Rodrigues

There are 8 comments for this article
  1. Camila at 20:38

    “Por isso sempre digo que um Gp consciente de sua profissão sempre tem 3 coisas: Uma boa rede de contatos, currículo sempre atualizado e dinheiro no banco.”

    Ótimo artigo 😉

    • Wellington at 17:57

      Muito Bom mesmo, muito claro e objetivo!

  2. Marcos gp at 14:45

    Excelente artigo! Foi uma ótima maneira de descrever as situações que podem acontecer e também mostrou o quanto vale um gerente de projetos.

  3. Allan at 08:54

    Eli, sei que faz tempo que você publicou o artigo e até hoje ele ainda se faz muito útil e intuitivo. Concordo com tudo!!!

    Parabéns pelo artigo.

    • Eli Rodrigues, PMP, CSM Author at 20:32

      Oi Allan, nem faz tanto tempo assim, vai! Foi em 2014 🙂
      Que bom que lhe foi útil.
      abs
      Eli