Arrumando emprego na crise: dilemas e estratégias
Excesso de contingente
Todo mundo já sabe que estamos em meio a uma crise econômica e a quantidade de pessoas sem emprego vem crescendo. Não quero entrar no mérito dos porquês, mas falar das perspectivas do recrutador e do candidato e dos dilemas e estratégias que permeiam o tema.
Será que vale a pena pedir emprego aos amigos, fazer um currículo visual ou aplicar para todas as vagas? O que fazer para se diferenciar dos demais? Como ser visto pelas empresas? Esses são os dilemas e estratégias discutidos nesse artigo.
Perspectiva do Recrutador
Na situação em que estamos, um recrutador tem recebido milhares de currículos por semana. Alguns por e-mail, outros deixados na porta da empresa, por indicação de amigos e por ferramentas de busca (Catho, Curriculum, Vagas etc).
Um recrutador tem em mãos uma vaga com requisitos específicos que devem ser cumpridos, caso contrário, a vaga permanecerá aberta até que os requisitos mudem. Se não conseguir fechá-la, colocará seu próprio emprego em risco, então deve agir rapidamente.
Por isso, os recrutadores usam as ferramentas de busca, mas ainda assim a quantidade de currículos é enorme. No exemplo abaixo, o sistema mostrou 27.979 candidatos, dos quais 588 mandaram o currículo, 408 passaram no filtro básico e apenas 20 foram selecionados.
Isso acontece porque o sistema vai buscar as experiências e conhecimentos que a vaga requer, não vai olhar o que você é capaz, mas o que já fez naquele cargo, naquela indústria e com aquelas qualificações. O recrutador, por sua vez, não vai conseguir olhar 27 mil currículos e contará com o apoio do sistema para isso.
“É como se um milhão de pessoas falasse ao mesmo tempo”
Se já é difícil ser recrutado através dos filtros, posso estar enganado, mas por e-mail parece impossível. Enviar um currículo visual pode causar uma boa impressão, mas somente se o recrutador chegar a abri-lo e encontrar as qualificações que precisa em destaque.
Dilemas
Vale comentar que muitos candidatos enviam o CV sem a qualificação para as vagas e, por mais que não seja a intenção, dificultam o match entre a vaga e o candidato. Em contrapartida, as empresas buscam os melhores profissionais pelo menor salário possível, muitas vezes idealizando o futuro contratado, o que também deixa o processo mais lento. Os recrutadores, por sua vez, têm dificuldades de processar tamanha quantidade de informações.
“O trânsito engarrafa porque todos os motoristas querem ter mobilidade”
É a própria teoria dos jogos, quanto mais todos tentarem fazer a mesma coisa, menos chances todos terão, vejamos dois exemplos:
Exemplo 1
Imagine o trânsito de São Paulo como plano de fundo, você precisa decidir se irá de carro ao trabalho, no intuito de obter mobilidade, conforto e economizar tempo.
Decisões e consequências:
- Se TODOS forem de carro, você perderá tempo e mobilidade, pois o trânsito ficará engarrafado.
- Se NINGUÉM for de carro, os ônibus e metrôs ficarão lotados e você vai perder tempo, mobilidade e conforto.
- Se ALGUNS forem de carro, você não vai poder se movimentar para onde e quando quiser, mas com certeza vai perder menos tempo.
- Mas, se APENAS VOCÊ for ao trabalho de carro, alcançará todos os objetivos, mas infelizmente esse cenário é impossível.
Exemplo 2
No segundo exemplo, você está procurando um emprego, viu uma vaga e resolveu mandar o CV para concorrer sem ter a qualificação necessária.
Decisões e consequências:
- Se TODOS mandarem o currículo, o recrutador vai ter dificuldades em escolher uma pessoa e você ficará sem emprego mais tempo.
- Se NINGUÉM mandar o currículo, a vaga fica aberta e você continuará sem emprego.
- Mas se apenas os qualificados mandarem o currículo, a vaga é fechada e talvez (apenas talvez) você seja escolhido.
Em todos os cenários há riscos e oportunidades.
Perspectiva dos Candidatos
Bem, sabendo que suas chances são maiores em sistemas de busca de currículos e quando você realmente tem a qualificação para a vaga, o que resta fazer?
- Definir quais vagas está buscando, baseado nas suas experiências e qualificações
- Construir um currículo facilmente adaptável a essas vagas, que lhe permita adicionar, editar ou excluir informações rapidamente
- Cadastrar-se nos sistemas e monitorar as vagas
- Candidatar-se apenas às vagas em que você tem pelo menos 80% das competências solicitadas, caso contrário só irá inflar o e-mail do recrutador e subtrair as chances dos demais, todos perdem.
Recebi essas 4 dicas da minha coach e confesso que levei vários dias para assimilá-las. Mas o que é mais frustrante: mandar currículos a esmo ou procurar e não encontrar vagas que condizem com seu perfil?
Estratégias
Nesse momento, diferente do que publiquei em 2014 no artigo “Porque devemos entrevistar o entrevistador antes de aceitar uma posição…”, o poder está de volta nas mãos das empresas e, com tanta gente boa no mercado, elas vão procurar o que melhor lhes convier.
Por isso, espero que tenha construído seus diferenciais através de um plano de carreira consistente. O plano de carreira nasce de um sonho e se consolida numa estratégia e a estratégia deve ser sólida o suficiente para gerar mais riqueza do que custou, por um período que valha a pena o esforço.
“Para quem não sabe aonde ir, qualquer caminho serve” (Alice no País das Maravilhas)
Em tudo isso, é preciso comparar-se aos concorrentes. Não se comparar é como tentar projetar um gol sem considerar que há outros jogadores em campo.
Uma vez constituída a análise dos concorrentes e do cenário, devem-se balancear fatores restritivos como: dinheiro, tempo, referência e maestria, temas discutidos no e-book “Plano de Carreira nos dias de hoje”. Raramente alguém tem todos os fatores disponíveis, por isso, é necessário construir a estratégia com o que você tiver em abundância.
Arrumando emprego na crise
Estamos em crise, muita gente está procurando emprego. As oportunidades flutuam nas redes sociais, os currículos são enviados por e-mail e um grande contingente de pessoas envia currículos sem a qualificação esperada para a vaga.
Quanto mais uma pessoa tentar a esmo, menos chances terá, pois cria gargalos nos recrutadores. A solução é buscar posições para as quais se esteja realmente qualificado, de preferência dentro de sistemas de busca, aumentando suas chances de passar nos filtros e ser chamado para uma entrevista.
Com um plano de carreira, que leve em conta as oportunidades passadas, atuais e futuras do mercado, o profissional tem a oportunidade de se preparar adiante dos demais, criando diferenciais que dificilmente serão copiados. Isto serve tanto para arrumar um emprego quanto para gerenciar uma empresa.
“Solidários, seremos união. Separados uns dos outros seremos pontos de vista. Juntos, alcançaremos a realização de nossos propósitos.” (Bezerra de Menezes)
Precisamos controlar o ímpeto de buscar sem critério, assim o fluxo de recolocação tenderá a funcionar de forma mais eficiente. Sei que é difícil se conter quando as cobranças começam a chegar e também sei que é possível conseguir trabalho de diversas outras formas diferentes destas.
Não existe resposta fácil, mas espero sinceramente que as ideias desse texto gerem insights para sua busca e que consigamos pôr o país de volta nos eixos o mais rápido possível.
Eli Rodrigues
Textos relacionados:
- Plano de Carreira nos dias de hoje
- Porque devemos entrevistar o entrevistador antes de aceitar uma posição de gerente de projetos
- Qual a melhor estratégia para minha empresa? Analogias da natureza
- Como fazer uma análise SWOT