Ode ao profissional generalista
Dizem que o especialista é aquele que sabe tudo de nada e o generalista, o que sabe nada de tudo. Mas como diria o personagem da escolhinha do professor Raimundo: há controvérsias!
Um especialista costuma ter excelente atuação em ambientes já estabelecidos, pois sabe fazer muito bem uma única coisa. Se naufragássemos numa ilha deserta no meio do Pacífico e tivéssemos um especialista em marcenaria no grupo, certamente teríamos casas, móveis e canoas. Mas e o resto? Será que teríamos especialistas em caça, pesca, curativos, roupas etc? Difícil.
Em contrapartida, o generalista talvez não conseguisse fazer casas tão boas, mas poderia organizar o trabalho e ajudar em tudo, procurando atribuir tarefas específicas a quem sabe fazer e, quando não tivesse ninguém capacitado, incentivar ou fazer ele mesmo.
De forma mais conceitual, o especialista conhece técnicas e ferramentas para fazer algum trabalho específico, enquanto o generalista, conhece técnicas e ferramentas genéricas para estruturar e, na maioria dos casos, gerir o trabalho.
Especialistas versus Generalistas
Enquanto os generalistas passam a vida procurando seu lugar, os especialistas não precisaram se preocupam com a estratégia das empresas, metas, faturamento ou custos. É claro que sempre que há uma crise no seu ramo de atuação ou especialidade, sofrem para achar emprego, mas acontece com todo mundo, não é?
Ainda me pergunto porque o mercado funciona assim, mas a resposta é óbvia: as empresas querem pessoas que façam seus trabalhos, que não faltem, não causem problemas, não precisem de treinamentos e, de preferência, que não questionem o status quo. Este é o fundamento da Hegemonia, de Gramsci, onde a classe dominante controla as massas. Tenho certeza que é um processo inconsciente, ao qual estamos apenas acostumados e que, por isso, não questionamos.
Em outras palavras, as pessoas são encaixotadas para seguir ordens através do freio colocado em suas visões e, qualquer um que fuja dessa conformidade, sofre a pressão e a exclusão do grupo, como diria outro sociólogo famoso chamado Muzafer Sherif.
Ora, se um engenheiro mecânico pode trabalhar com qualquer tipo de máquina; um eletricista, com qualquer tipo de instalação elétrica e um analista de sistemas, com qualquer tipo de sistema. Por que fazer questão de habilidades específicas ao contratar alguém? Para resolver problemas rapidamente.
O problema é que…
Para existir um especialista, é preciso primeiro haver um generalista. Quem começou a medicina? Quem foi o primeiro marceneiro? Quem inventou a Internet? Quem criou a primeira empresa multinacional?
Abílio Diniz era especialista em supermercados quando começou? E o dono das Casas Bahia era especialista em lojas, por acaso?
Enquanto a gestão de pessoas for feita por profissionais especialistas, sem visão do funcionamento da empresa, as empresas seguirão com dificuldades para encaixar as peças numa estratégia.
Sem profissionais generalistas, capazes de visualizar o quadro geral ou de lidar com qualquer tipo de problema, os custos se tornam altos, as margens baixas e a produtividade segue abaixo da média, a exemplo da brasileira em relação à média internacional. No caso do Brasil, melhorar a produtividade, focar em exportações, encontrar novas formas de alcançar o resultado, com inteligência e inventividade. Isso, só os generalistas poderão oferecer.
Não tenho a intenção de desmerecer os profissionais especialistas, precisamos deles e sempre precisaremos, caso contrário não teremos os produtos/serviços que só eles são capazes de gerar. Quero apenas fazer um ode ao generalista, que muitas vezes sente dificuldades para encontrar uma empresa que lhe acomode em seu quadro.
Eli Rodrigues