Gestão por espasmos

Gestão por espasmos

Certa vez, conheci um gestor muito peculiar, que aparecia na empresa apenas uma vez por semana para distribuir ralhos a todos. Ele cobrava resultados de vendas, reclamava da produtividade da equipe e pedia por melhoria nos custos, que ele mesmo gerenciava. Eram longas reuniões que não chegavam a lugar nenhum, todas as segundas-feiras.

Esse sujeito engraçado adorava criar termos, siglas e teorias e, certa vez, cunhou o termo “gestão por espasmos”, que só depois de um bom tempo consegui entender, Freud explica.

Depois desse, conheci muitos outros, é uma realidade no mercado. Gestores que não planejam, não acompanham e se tornam bombeiros. Sempre apagando incêndios e posando na foto como heróis, acho cômico.

Entendo que por falta de tempo, às vezes se torne impossível fazer jus ao cargo de “gestor”, mas é simples, quem não consegue repassar suas expectativas e gerir o time, inevitavelmente se torna um chato, que reclama, mas não faz nada para pavimentar o trabalho.

Gestão por Espasmos

Pois bem, a gestão por espasmos é aquela em que o gestor “se esquece” de sistematizar o trabalho, ignora rotinas, procedimentos e acaba por envolver-se em urgências constantes. Há quem chame de “gerente bombeiro”, mas gosto mais da analogia com os espasmos, pois o gestor permanece em estado letárgico até que algo aconteça e ele precise reagir aceleradamente, num surto ou como dizem, aplicando um “choque de gestão”.

As coisas vão indo bem, de repente, tudo começa a desmoronar. Resolvido o problema, tudo se acalma. Até que um dia, sem aviso, tudo desmorona novamente. Assim se perpetua a gestão por espasmos.

O “gestor espasmático” geralmente não define metas, prefere esperar que as pessoas hajam como ele – o gestor perfeito. Acho curioso e interessante esse estado de ego – o pai crítico. Para ele tudo é óbvio, por isso só dá orientações óbvias também. Mantém seu foco no que lhe promove até que seja obrigado a virar noites acompanhando a resolução de problemas em que, de fato, não pode ajudar em nada.

Embora a literatura sobre liderança e gestão nos ensine que precisamos traçar um objetivo, planejar como alcançá-lo e acompanhar o progresso, ainda há gestores que preferem ser a cigarra da fábula do Esopo.

Num dia de quente de verão, uma alegre cigarra estava a cantar e a tocar o seu violão, com todo o entusiasmo. Ela viu uma formiga a passar, concentrada na sua grande labuta diária que consistia em guardar comida para o inverno.

_ “D. Formiga, venha e cante comigo, em vez de trabalhar tão arduamente.”, desafiou a cigarra “Vamos nos divertir!”
_ “Tenho de guardar comida para o Inverno”, respondeu a formiga, sem parar, “e aconselho-a a fazer o mesmo.”
_ “Não se preocupe com o inverno, está ainda muito longe.”, disse a outra, despreocupada. “Como vê, comida não falta.”

Mas a formiga não quis ouvir e continuou a sua labuta. Os meses passaram e o tempo arrefeceu cada vez mais, até que toda a Natureza em redor ficou coberta com um espesso manto branco de neve.

Chegou o inverno. A cigarra, esfomeada e enregelada, foi a casa da formiga e implorou humildemente por algo para comer.
_ “Se você tivesse ouvido o meu conselho no Verão, não estaria agora tão desesperada.”, ralhou a formiga. “Preferiu cantar e tocar violão?! Pois agora dance!”

E dizendo isto, fechou a porta, deixando a cigarra entregue à sua sorte.

(Fonte: http://www.escolovar.org/fabula_1pagina_cigarra.formiga.htm)

Não preciso dizer o quanto isso é prejudicial para a empresa. Clientes insatisfeitos, projetos com problemas, prejuízos e pessoas que vão embora por não se sentirem reconhecidas e tantas outras consequências evitáveis passam a fazer parte do quadro.

Para lidar com esse tipo de gestor só há uma frase, uma pergunta na verdade: “Você quer ser feliz ou ter razão?”. Se quiser ter razão, procure outro trabalho, se quiser ser feliz, não se desgaste a toa tentando fazer a coisa certa, afinal, o certo é obrigação e o erro é óbvio. E você, já conheceu algum “gestor espasmático”?

 

Eli

Publicado por: Eli Rodrigues

There are 3 comments for this article
  1. Leila at 09:52

    Adorei o texto, mas não gosto da fábula porque é extremista, além de reforçar a falta de solidariedade para quem foi humilde em pedir ajuda. Onde fica a importância das lições aprendidas?

    • Eli Rodrigues Author at 09:57

      Oi Leila, legal sua perspectiva!
      A fábula é mesmo drástica mesmo, mas a grande questão é o quanto se pode agir com antecedência versus esperar que os problemas cheguem para acordar.
      Lições aprendidas são importantes, desde que o cidadão queira conhecê-las 🙂
      abração,

  2. Arthur Heineck at 10:59

    Olá, Eli. Muito boa. Esse termo é novo pra mim (Gestão por Espasmos), mas pela descrição das características desta chefia acredito já ter trabalhado com um ou outro =)

    Nada mais motivador e inspirador que uma marcha consistente e diária com a equipe na buscar pelos resultados.

    Grande abraço!