Sobrevivendo no mundo político das organizações
Viabilidade das coisas
Pergunta o inocente: Será que ninguém vê o que eu vejo?
Claro que vêem!
Mas a GRANDE diferença entre a postura do consultor – idealista, desapegado, externo – e do executivo – interno, realista, envolvido com o ambiente – é a FACTIBILIDADE.
Levei anos para entender que, por mais lógico e óbvio que algo seja, nem sempre conseguimos implementar.
Isso porque no dia a dia da empresa há outras prioridades maiores que as nossas. Também há opiniões melhores (ou pelo menos de maior peso) e ainda, há outras pessoas, com visões de diferentes perspectivas, tão certas quanto as nossas.
Em outras palavras, o processo político – de discussão, priorização e desdobramento de ideias – é fundamental (e benéfico) para o grupo. Quão sem graça seria se apenas uma opinião se sobressaísse sobre todas as demais?
A análise de viabilidade de um projeto deve não apenas observar fatores econômicos ou o alinhamento estratégico, mas também deve considerar o alinhamento político. Sem ele, as iniciativas estagnam e morrem na praia. Da mesma forma que um político sem apoio da câmara não consegue fazer nada, um executivo sem apoio político também não conseguirá.
Prioridade das coisas
Para mim, a grande dificuldade sempre foi entender porque nem tudo que a literatura prega, mesmo após décadas de estudo, é aceito pelos membros de uma empresa. Ora, muitas ações tentadas no passados são tidas hoje como casos de fracasso. Às vezes, porque as pessoas percebem que não vale a pena tentar novamente e outras vezes, porque desistiram de buscar caminhos.
Todos têm vidas próprias, tem anseios pessoais, querem viajar, querem comprar suas casas, ter filhos, fazer algum curso ou simplesmente não fazer nada. Não é todo dia que se acordam dispostas a convencer os outros, às vezes se cansam de tentar e acabam focando no que lhes traga o maior retorno com o menor esforço.
Se para mudar um processo for preciso convencer muita gente, é melhor focar nas vendas. Se as regras de vendas forem complicadas demais, melhor focar na entrega. Se a entrega for pesada e cheia de processos, melhor cumpri-los. Se as metas forem confusas e mutantes, melhor focar na meta da vez e, por fim, se a empresa for autocrática, melhor “fazer o que o rei deseja”.
A prioridade é sujeita às variações lógicas, financeiras e políticas. Também depende do histórico (do que não deu certo no passado), das aspirações profissionais (quais são as metas de cada um) e pessoais (no que cada pessoa está focada em sua vida) de todos os envolvidos.
Desdobramento das ideias
– Uma vez que um plano está delineado, tudo está resolvido!
– Certo?
– Errado!
Um plano é só um monte de palavras no papel. É a vontade DIÁRIA da maioria (ou da hegemonia) que fará um plano de ação ir à frente.
Essas ações, ainda que assinadas, sacramentadas, “salve-salve…” estarão sujeitas às priorizações (em todos os âmbitos) e à rediscussão, parte mais frustrante do processo político nas empresas.
Acho curioso quando a empresa não fornece o apoio adequado e depois cobra o motivo daquele resultado não ter sido alcançado. Esquecem-se que as empresas são feitas de pessoas e que possivelmente houve inabilidade política do patrocinador ou do executor.
Nessa hora é preciso ter paciência, buscar o engajamento das pessoas, rever os planos e seguir em frente.
Sobrevivendo no mundão político das empresas
Não difere muito do congresso nacional, é preciso discurso, alianças e força de vontade para realizar. O discurso angaria seguidores e os inspira, as alianças garantem que há interesses em comum (e claros) entre as partes e a força de vontade é que garante resiliência para lidar com a infinidade de mudanças de cenários que pode acontecer.
Diferente dos projetos, onde há objetividade, metas claras e uma data fim, no mundo das operações, das empresas por assim dizer, não há término de ciclo, as relações são mais duradouras e constantes, justamente por isso são mais difíceis de lidar.
Buscar apoio para realizar um projeto é um trabalho bem mais complexo que montar um plano, fazer reuniões de kickoff, status ou de entrega final. Tem a ver com a manutenção da imagem de idoneidade e com o gerenciamento de conflitos em longo prazo, afinal, o stakeholder do próximo projeto pode ser o mesmo do atual.
Acredito que o segredo esteja em mapear as relações e expectativas, mas a parte mais complicada mesmo é manter o controle emocional para dar os passos certos, na hora certa e com as pessoas certas.
Mas… e se ainda assim eu quiser realizar?
Bem, se a empresa não lhe der metas ou se elas mudarem constantemente, defina você mesmo quais são as suas, a partir de uma análise do cenário político.
Montei um quadro para ajudar a entender. O eixo vertical demonstra o nível de impacto que sua ação/meta terá em relação a seu objetivo pessoal, enquanto o eixo horizontal analisa o nível de controle que você tem sobre o resultado.
Dito isto, basta posicionar as metas e seguir (ou mudar, se quiser) as orientações dos quadrantes: Obviamente, devemos primeiro focar no verde mais escuro, que são as tarefas que tem maior impacto e menor grau de dependência política. No entanto, é certo que gastaremos bastante tempo nos quadrantes avermelhados cumprindo rotinas, enquanto “rezaremos” para ter capacidade de atender bem aos amarelos.
Com uma boa priorização das ações, o nível de stress tende a diminuir. Para que se desgastar mentalmente com algo que não podemos controlar? É melhor que nos empenhemos em fazer o que é possível do que em mudar o mundo.
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Abração e até a próxima!
Eli Rodrigues