Lean Office: Como estruturar um escritório enxuto
Lean
Lean é uma filosofia baseada no Sistema Toyota de Produção (STP) que tem o propósito de melhorar o fluxo de valor, eliminando desperdícios.
Seus princípios do lean envolvem o alinhamento estratégico (Hoshin Kanri), fluxo de valor contínuo, um sistema puxado na perspectiva do cliente e garantir a capacidade de resposta, através do monitoramento e da melhoria contínua.
O que é lean office
O lean office é a aplicação desta filosofia em escritórios de prestação de serviços. Por ser uma área nova, se comparada ao tempo de existência do STP, poucas empresas conhecem e tem aplicado suas práticas.
De um modo geral, o lean é um verdadeiro “caçador de desperdícios” e analisa cada processo da empresa para reduzir quaisquer esforços que não aportem valor visível e real ao cliente.
Pode parecer meio drástico, mas se mantivermos em mente que a eficiência de qualquer empresa é medida pelo seu EBITDA (resultado operacional), chegaremos a conclusão de que as ações mais importantes sempre estão ligadas ao aumento de receita e a racionalização de custos operacionais. Em outras palavras, quanto mais focarmos em atender ao cliente e menos custos operacionais tivermos, mais eficiente será o negócio.
Neste post, abordam-se os 8 tipos de desperdício do lean office e propõe-se uma abordagem simplificada para identificá-los e para compor um projeto de melhoria de processos.
Tipos de desperdício
Como dito, desperdício é qualquer atividade que não aporte valor ao cliente e na filosofia do lean office existem oito tipos, listados a seguir:
Superprodução | Inventário | Transporte | Movimento |
Quando se produz mais do que o cliente necessita ou deseja.
Exemplos:
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Trabalho esperando para ser processado
Exemplos:
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Movimentar o produto de um local para outro sem adicionar valor
Exemplos:
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Passos adicionais para procurar ou aprovar
Exemplos:
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Defeito | Superprocessamento | Espera | Intelecto |
Entregas que não atendem às necessidades do cliente
Exemplos:
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Esforço desnecessário para completar o trabalho
Exemplos:
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Ociosidade enquanto se espera pela completude de uma atividade precedente
Exemplos:
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Capacidades de pessoas que não são utilizadas ou alavancadas
Exemplos:
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Como identificar desperdícios
Poderíamos identificar desperdícios a esmo, reunindo pessoas para criticar processos, mas sem foco é pouco provável que a iniciativa trouxesse resultados concretos antes de esmaecer.
Por isso, propõe-se que a primeira atividade seja priorizar os serviços. Definindo o que tem maior retorno para a empresa, fica mais fácil conseguir apoio para investir na readequação. Além disso, com quick wins a iniciativa se torna sustentável, rentabilizando o esforço de análise com os resultados alcançados.
Priorizar os serviços
Nesta primeira etapa, devem-se mapear os tipos de serviços prestados e priorizá-los de acordo com a rentabilidade ou outro critério que expresse o benefício esperado.
Considere as seguintes fichas, como exemplo no contexto de empresas de software:
(A) Desenvolver um novo software | (B) Implantar um software existente | (C) Prestar sustentação a um software |
Construir, desde a concepção, um novo software específico para um cliente.
Considere os seguintes valores fictícios:
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Aplicar um pacote de software sobre os processos de um cliente já conhecido.
Considere os seguintes valores fictícios:
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Alocar uma equipe para sustentar um software já implantado, corrigindo eventuais problemas e orientando usuários na sua utilização.
Considere os seguintes valores fictícios:
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VME: 100.000 ou 10% do valor total * | VME: 82.000 ou 16,4% do valor total | VME: 126.000 ou 21% do valor total |
* O Valor Monetário Esperado (VME) é calculado através da multiplicação do valor a receber, neste caso o lucro, vezes a diferença entre 100% e o grau de risco. Para o primeiro caso, sendo a rentabilidade é de 50%, o lucro esperado para o projeto é de 500.000. Sendo o grau de risco de 80%, o VME é de 100.000 (20% x 500.000) ou [(1.000.000 x 50%) x (1-80%)].
Se o objetivo da empresa for puramente a rentabilidade, o tipo de projeto mais prioritário seria o C, dada sua rentabilidade real estimada em 21%.
É claro que existem muitos outros critérios para priorizar um projeto, como: a relação com um cliente, o grau de diferenciação do serviço, a visibilidade no mercado, a abertura de um novo tipo de serviço etc. No entanto, o framework de priorização permanece o mesmo: tipificar, definir critérios e avaliar o custo x benefício.
Mapear o fluxo de valor
Uma vez que se conheça a priorização por tipo de serviço é possível mapear o fluxo de valor. Qual a percepção de valor do cliente? quais são suas expectativas e critérios de avaliação?
Por experiência (e cada empresa tem a sua), em se tratando de projetos de sustentação, as expectativas do cliente tangem os seguintes critérios, já enriquecidos com seus respectivos processos:
Valor Homem-hora | Tempo de resposta | Disponibilidade dos profissionais | Capacitação dos profissionais |
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Se todas as áreas envolvidas entendessem a prioridade deste tipo de projeto e trabalhassem juntas para atender ao cliente, certamente não teríamos problemas em prestar um bom serviço, mas isto não é o que normalmente acontece.
Em geral, em cada etapa do processo há vários exemplos dos desperdícios citados anteriormente:
- Formulários para solicitação de pessoas e equipamentos
- Sistemas diferentes, requerendo a cópia de informações
- Tempos de espera para processamento das solicitações
- Falta de autonomia expressa pela necessidade de aprovações
- Deslocamento para reuniões, conversas e discussões sobre prioridades
- Regras que impedem o fluxo contínuo (ex: políticas de TI, período mínimo para processamento das solicitações, processos não documentados)
- Muitos relatórios e e-mails
Melhorar os processos
Para melhorar os processos é necessário que todas as áreas envolvidas se empenhem em discutir como tornar o fluxo de valor mais eficiente, e isto não é nada fácil.
Muitas empresas buscam otimizar o desempenho estabelecendo departamentos especializados, que constroem suas próprias regras, sistemas e processos. Mas, esta estratégia tende a propiciar uma “eficiência local” em detrimento do fluxo como um todo.
Para melhorar os processos é preciso auferir o quanto cada procedimento impacta na capacidade de gerar valor ao cliente, observando-se os critérios utilizado por este, para então adaptá-los (tailoring) para cada nível de prioridade específico.
Ilustrativamente, consideremos que a empresa estabeleceu uma fast lane para projetos do tipo C (prestar sustentação a um software). Isto significaria “empacotar” os serviços para atender a esta categoria de projetos, algo como o seguinte:
- Abre-se a solicitação de abertura de um novo projeto do tipo C, especificando os profissionais, equipamentos e requisitos específicos
- Obtém-se a aprovação para abertura do projeto
- Todas as áreas recebem solicitações automáticas e pré-aprovadas para processar o pedido
- O grau de prioridade é especial e o tempo de resposta é diferenciado
- O andamento dos serviços de cada área é refletido num ponto centralizado, no mesmo sistema em que a solicitação de projeto foi aberta
- O gestor do projeto, ponto focal da empresa no cliente, pode atentar-se em atender as expectativas do cliente, ao invés dos processos internos
- Fim
Quantas empresas requerem que as solicitações (passo 3) sejam feitas em múltiplos sistemas, com cópia de informações e aprovações feitas caso a caso? Em quantas o nível de prioridade (passo 4) é rediscutido com cada departamento individualmente? Em quais situações um gestor de projetos recebe um relatório sumarizado do andamento de todas as atividades internas (passo 5), sem precisar fazer acompanhamento com cada área?
Pois é, enquanto discutimos procedimentos internos, as expectativas do cliente (passo 6) são esquecidas e a probabilidade de renovação ou de up-selling só reduzem.
Estruturando um projeto de melhoria de processos
Bem, se você chegou até aqui é porque está realmente interessado em construir um escritório enxuto (lean office), meus parabéns!
Então, como é praxe do blog apresentar abordagens práticas, deixo abaixo uma estrutura analítica de projeto para ajudar a organizar sua iniciativa:
Priorização de serviços | Mapeamento do fluxo de valor | Melhoria de Processos | Implantação |
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Para categoria de serviço:
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Ainda há muito mais o que falar sobre lean office, mas este é o “resumo da ópera”. Em posts futuros discorrei em mais detalhes sobre os princípios e sobre nuances relacionadas a identificação e eliminação de desperdícios.
Espero ter ajudado!
Eli Rodrigues
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Referências:
- EXCELLENCE CONSULTING, Lean Office by Operational Excellence Consulting. Disponível em: https://pt.slideshare.net/oeconsulting/lean-office-by-operational-excellence-consulting
- LEAN IT. O que é Lean IT?. Disponível em: http://www.leanti.com.br/conceitos/3/o-que-e-lean-ti.aspx
- Lean Manufacturing Tools. The 7 Wastes (Mudas). Disponível em: http://leanmanufacturingtools.org/77/the-seven-wastes-7-mudas/
- Lean Manufacturing Tools. Waste of Overprocessing; causes, symptoms, examples and solutions. Disponível em: http://leanmanufacturingtools.org/121/waste-of-overprocessing-causes-symptoms-examples-and-solutions/
- MCMAHON, TIM. The 8 Common Wastes in an Office That Cause Downtime. Disponível em: http://www.aleanjourney.com/2013/02/the-8-common-wastes-in-office-that.html
- MOREIRA, Antonio. Os 7 tipos de desperdícios. Disponível em: https://pontotga.wordpress.com/2014/04/02/os-7-tipos-de-desperdicios/
- TRUJILLO. Paul. 5 lean inventory principles. Disponível em: http://www.waspbarcode.com/buzz/5-lean-inventory-principles/